top of page
Buscar
Foto do escritorO Cubo Notícias

Em coluna do UOL, Ricardo Kotscho conta sobre a fala e visita de Lula a Porangaba



Jornalista que tem sítio em Porangaba explicou a fala do candidato Lula ao Podcast Flow, no qual citou nossa cidade.



Na última quarta-feira (19/10), a coluna “Balaio do Kotscho”, feita pelo jornalista Ricardo Kotscho, explica a citação que o ex-presidente e candidato ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva fez ao Flow Podcast, na noite de terça-feira.


No programa exibido pelo Youtube e assistido, simultaneamente, por mais de 1 milhão de pessoas, Lula falou sobre diversos temas e, em um deles, abordou o atraso do Brasil em adotar políticas sociais e direitos da população. Neste momento, Lula contou que seu amigo jornalista, que tem um sítio em Porangaba foi um dos primeiros a reconhecer direitos trabalhistas de seu funcionário e que isso causou uma grande repercussão local. (Assista, abaixo).



Na coluna intitulada “Na boca do caixa, o medo do menino de dizer em quem votou para presidente”, Ricardo Kotscho descreve a situação comentada por Lula no Podcast e conta como foi a visita dele em Porangaba.


Leia a coluna, abaixo:


"Então, você já votou para presidente", falou minha amiga para o menino do caixa do supermercado quando ele respondeu a idade: 19 anos.


Envergonhado, disse que sim, acenando com a cabeça.


"E você votou em quem?"


O menino olha para os lados e, discretamente, abre dois dedos sobre o balcão fazendo a letra "L".


"Ninguém pode saber... Se não, eles me mandam embora, já avisaram todo mundo".


Sua colega, da caixa ao lado, acompanha a conversa e abre um sorriso: "Eu também!".


Faz o "L" escondida, abrindo o indicador e o polegar sobre o peito.


Esse é o clima num pequeno supermercado, numa pequena cidade do interior paulista, a 11 dias das eleições.


Por isso, é preciso tomar muito cuidado com as pesquisas nesta reta final, dominada por um difuso clima de medo entre os eleitores ainda empregados.


De lá, minha amiga foi para uma fazenda conversar com clientes.


O dono estava feliz da vida:


"Finalmente, consegui contratar um caseiro".


E acrescentou, orgulhoso:


"Mas sem registro em carteira, 13º salário, férias, nada disso".


Na véspera, por coincidência, em entrevista que deu ao podcast Flow, que foi visto por mais de 1 milhão de pessoas no Youtube, Lula comentou um episódio que aconteceu no sítio de um "amigo jornalista" em Porangaba, no interior paulista.


O único amigo dele que eu saiba que tem sítio nessa cidade sou eu, e aproveito para contar o que aconteceu comigo, quando contratei um caseiro, no começo dos anos 1980.


A primeira coisa que fiz foi registrá-lo em carteira, o que já lhe causou estranheza, porque isso nunca tinha acontecido antes com ele (e o seu Zé, José Antônio Teles, tem a minha idade). Trabalha comigo até hoje, junto com o filho dele, que nasceu lá.

No final do ano, chamei-o para receber o 13º salário. "Não precisa, seu Ricardo. O senhor já me pagou este mês". Expliquei-lhe que em dezembro ele tem direito a receber mais um salário, é lei. Feliz da vida, foi contar a novidade para os amigos na venda onde faz compras na cidade.


Ao completar um ano de serviço, avisei-o que tinha direito a um mês de férias, mas ele respondeu que não precisava. Disse que não estava cansado. Como ele continuou trabalhando normalmente, naquele mês paguei-lhe mais um salário, como manda a lei.


Seu Zé foi direto para a venda contar a novidade aos amigos, e eu fui junto. Percebi o mal- estar que causou em parte da freguesia, e a surpresa, em outra. Os sitiantes e fazendeiros me olharam feio; os empregados, queriam saber mais detalhes do Seu Zé.


Fiquei mal visto na cidade pelos outros sitiantes e fazendeiros. Alguns me chamaram de "comunista", que eu estava fazendo uma "revolução" na cidade.


No mês seguinte, numa folga da sua campanha a governador de São Paulo, Lula e as nossas famílias fomos para o sítio em Porangaba, onde ainda não tinha água nem luz, e caiu um pé d´água de espantar fantasma.


Com a casa inundada, fomos fazer compras na venda. Começou um bochicho na freguesia, se era o Lula ou não era. Fui falar com o pessoal. Um deles veio me perguntar:


"É o Lula que taí, né? Aquele lá... Mas vocês não vieram fazer uma greve aqui, pelo amor de Deus..."


Sim, era o Lula, mas a gente só queria descansar. Aí o cara me explicou o medo dele:

"É que meu pai abriu a nova fábrica dele de balas esta semana e eu fiquei preocupado..."

Eram balas de chupar, não de atirar, diga-se. Outros tempos.


O medo que Lula causava em 1982 não é muito diferente desse de agora, espalhado pela fábrica de fake news bolsonarista, em que o acusam de querer fechar igrejas, invadir propriedades privadas, acabar com a família, implantar o "comunismo", etc.


O nome agora é "assédio eleitoral" para constranger os trabalhadores a votar em Jair Bolsonaro, ou perder o emprego, o que levou a Defensoria Pública da União e o Ministério Público do Trabalho a emitirem nota conjunta para coibir a prática. Pode ser tarde demais. O medo já se espalhou, como vimos no supermercado.


Se é assim em São Paulo, a 140 quilômetros da capital, dá para imaginar o que está acontecendo nos grotões do país onde o voto de cabresto dos coronéis nunca deixou de imperar.


A sociedade escravagista sobrevive, dividindo o país entre quem manda e quem obedece. O coronelismo só mudou de nome. Vale a lei do mais forte.


Vida que segue.”



Com: Uol - Coluna Balaio do Kotscho

841 visualizações

LEIA TAMBÉM:

bottom of page