Em meio a crise, Evo Morales renuncia à presidência da Bolívia
Evo Morales renunciou à presidência da Bolívia em meio a uma profunda crise política no país. Ele deixou a capital La Paz e desembarcou em Cochabamba, sua região, para se encontrar com líderes cocaleiros. Ele se disse vítima de um golpe "cívico-político-policial" e afirmou que renunciou para tentar pacificar o país.
O comandante-chefe das Forças Armadas da Bolívia, o general Williams Kaliman, havia pedido hoje a Morales que renunciasse. O país mergulhou em uma crise, com uma onde de protestos contra a questionada reeleição de Morales na votação de 20 de outubro, nas quais a OEA (Organização de Estados Americanos) viu irregularidades.
"Após analisar a situação conflituosa interna, pedimos ao presidente de Estado que renuncie a seu mandato presidencial permitindo a pacificação e a manutenção da estabilidade, pelo bem da nossa Bolívia", disse o general Kaliman à imprensa.
O líder regional opositor boliviano Luis Fernando Camacho foi à sede de governo, em La Paz, para entregar uma carta de renúncia que pretendia que Evo Morales assinasse.
Casa da irmã de Evo Morales e de políticos foram incendiadas
O ex-presidente boliviano informou na madrugada de hoje que as casas de sua irmã e de dois governadores foram incendiadas durante a onda de protestos que atinge o país.
Ele denunciou em sua conta no Twitter que a casa da irmã Esther Morales Ayma, em Oruro, e os imóveis dos governadores de Chuquisaca, Esteban Urquizu, e de Oruro, Víctor Hugo Vásquez, foram alvo de atos violentos. Os incêndios aconteceram ontem.
"Denunciamos e condenamos perante a comunidade internacional e o povo boliviano que o plano de golpe fascista executa atos violentos com grupos irregulares, que atearam fogo na casa dos governadores de Chuquisaca e Oruro e da minha irmã naquela cidade. Vamos preservar a paz e a democracia", escreveu.
Novas eleições convocadas
Morales anunciou a convocação de novas eleições gerais e decidiu renovar a totalidade de magistrados do Tribunal Supremo Eleitoral, depois da publicação de um informe de auditoria da OEA que invalida as eleições de 20 de outubro.
"Decidi renovar a totalidade de membros do Tribunal Supremo Eleitoral", disse Morales em um anúncio pela televisão.
O presidente informou também que vai "convocar novas eleições nacionais, que por meio do voto permitam ao povo boliviano escolher democraticamente novas autoridades", acrescentou.
O informe da OEA, divulgado neste domingo, estabeleceu que a organização "não pode validar os resultados da presente eleição, e portanto se recomenda outro processo eleitoral", ao estabelecer irregularidades na contagem de votos.
O líder esquerdista boliviano, no poder desde 2006, ganhou as eleições de 20 de outubro. Mas a apuração de votos foi interrompida inexplicavelmente durante quase um dia inteiro, o que provocou acusações de fraude e desencadeou protestos, greves e bloqueios de rodovias.
Morales é o líder há mais tempo no poder na América Latina. Ele venceu a eleição com dez pontos de vantagem (margem mínima necessária para evitar o segundo turno) sobre o rival Carlos Mesa, o que lhe garantiu um novo mandato.
No texto, a OEA pede ainda respeito à liberdade de manifestação do povo boliviano e afirma que entende que "os mandatos constitucionais não devem ser interrompidos, inclusive o do presidente Evo Morales".
Os protestos na Bolívia duram mais de duas semanas, depois de oposição e movimentos civis terem denunciado fraudes na contagem dos votos a favor do presidente, que a comissão eleitoral deu como vencedor para cumprir um quarto mandato. Os comitês da oposição não reconhecem a vitória e exigem a renúncia de Evo Morales e a repetição do escrutínio.
Morales, por sua vez, denuncia ser vítima de um golpe de Estado. "Irmãs e irmãos, nossa democracia está em risco pelo golpe de Estado que grupos violentos colocaram em marcha, atentando contra a ordem constitucional. Denunciamos à comunidade internacional esse atentado contra o Estado de Direito", afirmou o presidente em sua conta no Twitter.