Prefeito do Rio de Janeiro oferece cirurgias e quitação de IPTU a pastores em reunião secreta
Um encontro secreto de Marcelo Crivella no qual ele oferece facilidades a pastores, igrejas e fiéis no Palácio da Cidade – sede do governo municipal – foi o estopim para que políticos e um sindicato protocolassem três pedidos de impeachment contra o prefeito. Áudios revelam que Crivella prometeu solução para problemas com IPTU das igrejas e agilidade para cirurgias de catarata, por exemplo .
O caso foi divulgado pelo Jornal O Globo no dia 5 de julho. Nesta semana, três pedidos de impeachment foram protocolados.
Os do vereador Átila Nunes (MDB-RJ) e da presidente municipal do PSOL, Isabel Lessa em conjunto com o deputado estadual Marcelo Freixo, foram registrados na Câmara Municipal. Um terceiro pedido, registado pelo Sindicato dos Servidores Públicos do Rio (Sisep), foi protocolado no Tribunal de Justiça.
Segundo os vereadores, os motivos do pedido são as medidas que estão sendo tomadas pelo prefeito em favorecimento aos integrantes da Igreja Universal. A mais recente foi a reunião no Palácio da Cidade.
O pedido de impedimento por crime de responsabilidade deverá ser analisado quando a Câmara voltar de recesso. Por isso, os vereadores que fazem oposição ao prefeito se reuniram na última terça (10) e conseguiram as assinaturas necessárias para realizar uma sessão extraordinária que discutirá os pedidos.
"O pedido é para interrupção do recesso e discutir possíveis erros do Crivella. Queremos avaliar se a reunião secreta configurou crime de responsabilidade ou improbidade administrativa", explicou o vereador Tarcisio Motta (PSOL).
A aprovação de sessão extraordinária para interromper o recesso parlamentar da Câmara Municipal do Rio e discutir possível impeachment do prefeito foi só o primeiro passo de uma cruzada da oposição parlamentar em sua batalha contra Marcelo Crivella (PRB).
A Procuradoria ainda analisa se a admissibilidade do impeachment deve ser votada nesta quinta (12). A decisão cabe ao presidente da Câmara, Jorge Felippe (MDB).
De qualquer forma, mesmo se o pedido for votado, a oposição precisaria duplicar o número de apoiadores em praticamente 48 horas. Isso porque a admissibilidade do impeachment necessita de 34 votos: exatamente o dobro do número de signatários do pedido de interrupção do recesso.
Um grupo de parlamentares do PSOL também se reuniu com o procurador-geral do MPRJ, Eduardo Gussem, para entregar representação ao Ministério Público do Rio pedindo uma investigação sobre possível improbidade administrativa cometida pelo prefeito Marcelo Crivella.
Encontro de Crivella com pastores
O encontro do prefeito com líderes evangélico foi a portas fechadas, e os convidados não podiam pegar no celular. Crivella marcou a reunião por mensagem. Segundo o jornal O Globo, os pastores podiam levar qualquer reivindicação e, em troca, a prefeitura falaria sobre o que teria a oferecer para os convidados.
Em áudios da reunião, Crivella promete solução para os problemas com IPTU. O encontro aconteceu na tarde de quarta-feira (4).
“Tem pastores que estão com problemas de IPTU. Igreja não pode pagar IPTU, nem em caso de salão alugado. Mas se você não falar com o doutor Milton, esse processo pode demorar e demorar".
"Nós temos que aproveitar que Deus nos deu a oportunidade de estar na prefeitura para esses processos andarem. Temos que dar um fim nisso”, disse o prefeito.
Crivella ofereceu ainda sinal de trânsito, quebra-molas e ponto de ônibus perto das igrejas.
“Às vezes, o pastor está na porta da igreja e diz assim: 'Quando o povo atravessa, pode ser atropelado'. Vamos botar um sinal de trânsito. Vamos botar um quebra-molas. Ou então o pastor diz assim: 'O ponto de ônibus é lá longe, o povo desce e vem tomando chuva até a porta da igreja'. Então vamos trazer o ponto para cá".
"Vamos aproveitar esse tempo que nós estamos na prefeitura para arrumar nossas igrejas. Se vocês quiserem fazer eventos no Parque Madureira, está aqui o nosso líder, que é o doutor Valmir”, disse Crivella.
Agilidade para cirurgias
No encontro, o prefeito também ofereceu agilidade para quem precisasse de cirurgias de catarata nos hospitais federais e municipais do Rio.
“Nós estamos fazendo o mutirão da catarata. Contratei 15 mil cirurgias até o final do ano. Então, se os irmãos tiverem alguém na igreja com problema de catarata, se os irmãos conhecerem alguém, por favor falem com a Márcia. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar, e daqui uma semana ou duas eles estão operando”, diz Crivella.
Entretanto, o discurso do prefeito não funciona para o resto da população. Para várias pessoas que aguardam na fila pela cirurgia de catarata, a espera pode ser longa. Quando o plano de cirurgias do município foi lançado em abril, eram 15 mil pessoas na fila aguardando pela operação.
O prefeito do Rio continuou oferecendo outras vantagens, como para o tratamento de varizes.
“A outra, são varizes. A maioria são mulheres que estouram uma variz na perna e abre uma ferida que não fecha. E a senhora apenas troca o curativo. Hoje existe uma maneira, injeta na veia dela uma espuma medicinal e fecha a ferida, uma bênção. Também, por favor, falem com a Márcia. E tem a vasectomia para os homens, estamos zerando a fila”, acrescentou Crivella.
Ao lado do prefeito, no encontro, estava o pré-candidato a deputado federal pelo PRB, Rubens Teixeira.
Crivela falou durante uma hora, e a assessoria do prefeito pediu para ninguém usar o celular. No final, os pastores anotaram todos os pedidos em um papel e entregaram aos assessores do prefeito. Segundo a reportagem, um dos organizadores terminou a reunião dizendo "até breve".
Outro lado
Em nota, a Prefeitura do Rio informou que a reunião teve como objetivo prestar contas e divulgar serviços importantes para a sociedade, entre eles o mutirão de cirurgias de catarata e o programa sem varizes.
A prefeitura disse ainda que os templos de todas as denominações religiosas estão isentos do pagamento de IPTU e que, desde o início de gestão, o prefeito Marcelo Crivella já recebeu os mais diversos representantes da sociedade civil, para tratar dos mais variados assuntos, tanto no gabinete quanto no Palácio da Cidade.
A prefeitura também afirmou que a reunião já estava agendada, mas não explicou o motivo pelo qual a assessora do prefeito pede para que os participantes não usem o celular.