Advogados, policial e servidor público são condenados por organização criminosa, em Tatuí
Segundo a Justiça, 15 pessoas foram condenadas em Tatuí (SP) por facilitar o tráfico de drogas. Grupo era dividido em núcleos que atuavam na venda de drogas, apoio jurídico e até nas operações da Guarda Civil.
A Justiça condenou 15 pessoas por integrarem uma organização criminosa que atuava para facilitar o tráfico de drogas em Tatuí (SP) e região após denúncia feita pelo Ministério Público. Entre os condenados estão advogados, uma escrivã da Polícia Civil e um servidor municipal. Seis envolvidos já foram presos. As penas variam de 2 a 27 anos de prisão mais pagamento de multa.
Segundo o Ministério Público, o grupo agia principalmente no bairro Rosa Garcia 2, em Tatuí. As investigações começaram em 2014 após uma série de apreensões de drogas e de prisões por tráfico de drogas que chamaram atenção da Polícia Civil. Ao todo, 21 pessoas começaram a ser investigadas.
As investigações do Ministério Público apontaram que a quadrilha se dividia em grupos para a prática de crimes.
Conforme a promotoria, havia núcleos organizados, sendo que um agia no bairro Rosa Garcia 2 para a venda das drogas, o outro era integrado por advogados que davam apoio jurídico aos presos. E o terceiro tentava influenciar no patrulhamento da Guarda Municipal de Tatuí.
A promotoria apurou que, no núcleo de comando, havia um responsável por definir os rumos das ações ilegais, estabelecendo contatos com outras organizações com o intuito de dominar o tráfico de drogas não só na região de Tatuí, mas também em áreas como Jundiaí (SP).
Segundo a denúncia, no núcleo de assessoria jurídica da organização contava com a atuação dos advogados Silvia Regina Catto Mocellin e Ari Antônio Domingues, também condenados.
A promotoria afirma que, quando membros do grupo eram presos em flagrante ou diante da apreensão de entorpecentes, Silvia e Domingues eram acionados para evitar que algum preso em flagrante ou adolescente apreendido fornecesse qualquer elemento de prova que pudesse incriminar integrantes do núcleo de comando.
Já no núcleo de atuação havia o servidor municipal Cleber Roberto Sales, que era motorista do ex-prefeito José Manuel Correa Coelho, o Manu. Segundo o MP, ele atuava para tentar diminuir a atuação da Guarda Municipal no Rosa Garcia 2, onde ficava a maior parte da quadrilha.
Ainda segundo a promotoria, em uma das conversas telefônicas interceptadas, a promotoria constatou que eles informavam que a Polícia Militar estava realizando operação em local de venda de drogas, indicando que iria conversar com o prefeito sobre o assunto.
Além deles, foi condenada também a policial civil Adriana de Camargo. Segundo a denúncia do MP, a policial, ré no âmbito da ação que trata de organização criminosa dedicada ao tráfico de entorpecentes na região de Tatuí, foi condenada por corrupção passiva, por ter aceitado promessa de vantagem da organização criminosa para praticar ato de ofício na condição de escrivã. Ela foi enquadrada no artigo 317 do Código Penal.
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Tatuí informou que Cleber Roberto Sales foi contratado como prático de poda e corte por processo seletivo. Trabalhou na prefeitura de Tatuí no período de junho de 2015 a abriu de 2016 e, segundo o departamento de Recursos Humanos, nunca exerceu a função, tendo sido lotado no gabinete do então prefeito José Manoel Correa Coelho como motorista e segurança. A reportagem tentou contato com a defesa do servidor Cleber, que está preso, mas não teve retorno.
O ex-prefeito de Tatuí, José Manuel Correa Coelho, o Manu, disse em nota que não teve conhecimento e nem contato com as pessoas citadas no processo, tanto que não foi citado pela Justiça. Manu disse ainda que, na ocasião do fato, exonerou imediatamente o funcionário da prefeitura envolvido, que exercia somente a função de motorista.
O comando da Guarda Civil Municipal de Tatuí não foi trocado nem antes e nem depois desses fatos, continuando ate o final da gestão de Manu, que ressaltou também que não recebeu nenhuma ordem para reduzir a vigilância em nenhum bairro do município.
Em nota, o advogado Ari Antônio Domingues, que de acordo com a promotoria atuava no núcleo de assessoria jurídica da organização, informou que mesmo a Justiça tendo julgado parcialmente procedente a denúncia do MP, discorda da sentença e vai recorrer. Ele cita ainda que não tem conhecimento sobre a suposta quadrilha indicada pelo órgão.
Já a advogada Silvia Regina Catto Mocellin, também citada pela promotoria, por telefone, informou que discorda da denúncia e que fazia o exercício legal da profissão. Disse ainda que foi interpretada de maneira errada pelo Ministério Público e vai recorrer.
A defesa da policial civil Adriana de Camargo afirmou que a cliente achava que estava fazendo um favor para alguém do Poder Executivo. Afirmou que na gravação em que ela aparece, não é citado o nome de nenhum criminoso. O advogado vai recorrer no Tribunal de Justiça de São Paulo.