Após reportagem citar gravação, deputado protocola pedido de impeachment de Temer
Deputados federais pediram o impeachment do presidente da República, Michel Temer (PMDB), no plenário da Câmara na noite desta quarta-feira (17) após a revelação de um áudio em que o peemedebista supostamente pede para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A denúncia foi publicada no site do jornal "O Globo".
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) protocolou um pedido de impeachment do presidente Michel Temer (PMDB). O pedido ainda precisa ser aceito pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Se ele for aceito, será criada uma comissão especial para analisar o assunto.
Após o pedido de impeachment de Molon, o deputado e terceiro secretário da Mesa, João Henrique Caldas (PSB-AL), apresentou uma denúncia contra Temer por crime de responsabilidade.
O deputado Afonso Florence (PT-BA) foi um dos parlamentares que gritaram pelo impeachment de Temer. Segundo ele, "se for confirmada a veracidade do conteúdo [da gravação], acabou o governo".
"Se isso é verdade, a gravação tem de ser verificada, mas isso incinera o governo, a reforma da Previdência. [Tem de ter] o impeachment imediatamente, fica insustentável. O processo tem de tramitar, mas é inexorável", afirmou.
Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio de Cunha
O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou à PGR (Procuradoria-Geral da República) que o presidente Michel Temer (PMDB) deu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) e do operador Lúcio Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato. A informação foi divulgada pelo jornal "O Globo" nesta quarta-feira (17).
De acordo com a publicação, as informações fazem parte de uma delação de Joesley que ainda não foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O depoimento do empresário foi dado à PGR em abril e, no dia 10 passado, o conteúdo foi comunicado ao ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.
Ainda de acordo com o jornal, a conversa entre Joesley e Temer teria acontecido no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário teria gravado a conversa com um gravador escondido.
Segundo a reportagem de "O Globo", Joesley disse ter contado a Temer que estava pagando a Cunha e Funaro para ficarem calados. O presidente, segundo o empresário, responde: "Tem que manter isso, viu?"
A publicação também informou que a PF registrou ao menos uma entrega de R$ 400 mil para Roberta, irmã de Lúcio Funaro. Já o dinheiro para Cunha seria entregue a Altair Alves Pinto. Altair já fora apontado pelo operador Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, como o responsável por receber as propinas destinadas ao ex-deputado.
Cunha teria agido a favor da J&F em projetos de lei e no fundo FI-FGTS, que investiu mais de R$ 1 bilhão em empresas do grupo.
O empresário disse ter pagado ao menos R$ 5 milhões a Cunha depois de sua prisão, e ainda devia mais R$ 20 milhões relativos à tramitação de uma lei que previa a desoneração de impostos no setor de frango.
Deputado teria resolvido "assunto" da J&F
Ainda de acordo com o relato de Joesley publicado por "O Globo", Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver "um assunto" da J&F, a holding que controla a JBS. Depois, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil mandados pelo empresário.
A "pendência" da J&F com o governo, segundo Joesley, era uma disputa relativa ao preço do gás fornecido pela Petrobras à termelétrica EPE, que pertence ao grupo. Loures teria ligado para o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Gilvandro Araújo, para interceder pela J&F. Pelo serviço, Joesley teria oferecido a Loures uma propina de 5%, que teria sido aceita pelo deputado.
Depois, Joesley e Ricardo Saud, diretor da JBS, teriam acordado com Loures o pagamento de uma propina de R$ 500 mil semanais por 20 anos --o que totalizaria quase meio bilhão de reais. O deputado teria dito que levaria a proposta a alguém acima dele.
Ao menos uma entrega de R$ 500 mil a Loures, feita por Saud, teria sido flagrada pela PF em São Paulo.
Joesley, Saud e mais cinco pessoas da JBS devem pagar uma multa de R$ 225 milhões, segundo "O Globo".
Por meio de sua assessoria de imprensa, a JBS informou que não vai se posicionar sobre as eventuais gravações feitas por Joesley Batista e reveladas pelo jornal O Globo.
O advogado do economista Lúcio Funaro, Bruno Espiñera, disse não ter conhecimento sobre pagamentos em dinheiro feito a Funaro e parentes dele. Ele disse que irá se encontrar com seu cliente, que está preso em Brasília, nesta quinta-feira (18).
"Estou tão surpreso com essa informação quanto qualquer outra pessoa. Não tinha conhecimento dessas informações, mas até falar com meu cliente e saber o que ele tem a dizer sobre isso, vou continuar tratando essas informações como mais uma delação que ainda precisa ser confirmada", afirmou.
Procurada, a PGR (Procuradoria-Geral da República) disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se manifestará sobre eventuais acordos de colaboração que ainda não foram homologados.
O UOL está tentando contato com as assessorias de imprensa do presidente Michel Temer e do deputado Rodrigo Rocha Loures. Nenhum deles ainda respondeu.
Aécio também foi gravado
Joesley Batista afirmou à PGR, ainda de acordo com "O Globo", que também gravou o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, lhe pedindo R$ 2 milhões. O dono da JBS entregou à PGR um áudio em que o tucano pede a quantia sob a justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.
O momento da entrega do dinheiro a um primo de Aécio foi filmado pela Polícia Federal. A PF descobriu que a quantia foi depositada numa empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
O UOL está tentando contato com as assessorias de imprensa de Aécio Neves e Zezé Perrella. Nenhum deles ainda respondeu.
Empresário implica Mantega e Palocci
Ainda de acordo com "O Globo", Joesley disse que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega era seu contato no PT para a distribuição de propina a petistas e aliados. Mantega também atenderia a interesses da JBS e da J&F no BNDES.
Já o ex-ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, foi contratado pela JBS como consultor e atuava como uma espécie de orientador do empresário no meio político. Segundo Joesley, Palocci não se envolveu nos pedidos de suas empresas no BNDES, mas pediu doação de campanha ao PT via caixa dois. De acordo com "O Globo", o pedido foi atendido.
JBS faturou R$ 170 bilhões em 2016
Em seu site, a JBS se apresenta como "uma das líderes globais da indústria de alimentos", com mais de 230 mil funcionários ao redor do mundo. A empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo em 2007. No ano de 2016, segundo informes financeiros da empresa, a JBS a companhia registrou receita líquida de R$ 170,3 bilhões. O lucro líquido foi de R$ 376 milhões.
A JBS é uma das empresas da holding J&F, que inclui companhias de setores variados. São elas: Vigor (derivados de leite), Alpargatas (calçados e vestuário), Eldorado Brasil (celulose), Flora (higiene e limpeza), Banco Original, Âmbar (energia), Canal Rural, Oklahoma (criação de gado nos EUA, Austrália e Canadá) e Floresta Agropecuária (criação de gado no Brasil).