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BBC - Brasil

Há 100 mil crianças que, como Omran, estão na linha de frente da guerra síria, diz correspondente da


Qualquer usuário das redes sociais pode encontrar a imagem do menino atordoado e ensanguentado, sobrevivente de um ataque aéreo em uma área controlada por rebeldes na quarta-feira.

Mas Omran Daqneesh, de 5 anos de idade, não é a única criança sobrevivente em Aleppo e na Síria em ataques. Então por que sua situação tocou a tantas pessoas ao redor do mundo?

Talvez as percepções das pessoas sobre a guerra da Síria estejam mudando. À imagem de Daqneesh seguiu-se um tsunami de respostas, choque e tristeza nas redes sociais.

Segundo o braço da ONU para a infância, Unicef, cerca de 100 mil crianças vivem em áreas sob controle rebelde em Aleppo.

Em um relatório publicado em março, a Unicef estimou que cerca de 3,7 milhões de crianças - uma em cada três no país - não conhecem outra realidade além do conflito que já dura cinco anos.

Dividida entre o oeste, controlado pelo governo, e o leste, dominado por rebeldes, a cidade é palco de uma disputa sangrenta que se estende há quatro anos.

O enviado especial da ONU à Síria, Staffan de Mistura, estima que 400 mil pessoas tenham morrido no conflito sírio.

Linha de frente

A imagem de Omran pode sensibilizar muitos que assistem ao desenrolar dos eventos na Síria. Mas para a correspondente especialista em coberturas internacionais da BBC, Lyse Doucet, que conta com um longo histórico de coberturas na Síria e no Oriente Médio, é no terreno que a situação precisa mudar.

"Em Aleppo e outras partes da Síria, crianças estão sendo forçadas a viver em situações que até os adultos, apesar de anos de experiência, consideram desesperadoras", disse Doucet.

"Apesar disso, as crianças encontram formas de articular o que veem ao seu redor; sabem o que está acontecendo com elas; veem o sofrimento dos seus pais, ou muitas vezes veem os seus pais morrendo na sua frente; suas casas destruídas na frente deles. Elas próprias são muitas vezes tiradas dos escombros."

"Elas não são apenas alvo da violência, são a própria linha de frente da guerra."

Muitos sírios já desistiram da ideia de paz no seu país - como se pode ver pelo grande número de migrantes arriscando a vida na tentativa de chegar à Europa. "Eles falam sobre a Síria como um lugar para morrer e não para viver", diz a correspondente.

"Mas para os sírios que ficaram, ainda há esperança. Eles se apegam a qualquer fio de esperança na esperança de que algo aconteça." Recentemente, autoridades russas vêm sugerindo a possibilidade de um acordo sobre como gerenciar Aleppo. A cidade está no meio do fogo cruzado entre rebeldes e forças do governo Bashar al-Assad.

Primeiro, o lado leste de Aleppo - controlado por rebeldes - foi sitiado pelas forças do governo. Depois, o oeste - controlado pelo governo - foi sitiado pelos rebeldes. Ambos os lados estão adotando essa tática, e são os civis e as crianças que pagam o preço.

Até quando?

O secretário de Estado americano, John Kerry, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, têm se reunido há meses para discutir a situação na Síria.

Nesta quinta-feira, o enviado da ONU indicou que já decorreu tempo suficiente. De Mistura interrompeu uma reunião sobre ajuda humanitária em Genebra pela frustração de nenhum dos lados dar sinais de que os ataques serão interrompidos.

Para Doucet, "muitos já se perguntam se Aleppo, como a guerra síria, está se tornando uma guerra sem fim".

"No início deste ano, uma suspensão de hostilidades trouxe relativa tranquilidade para a Síria, e as vidas de muitos foram poupadas", ela lembra. Agora, os combates recrudesceram. Não somente as duas superpotências, Rússia e EUA, precisam concordar em parar as hostilidades na Síria. Também o Irã e os países do Golfo.

Com apoio da Rússia, o Irã está intensificando seus bombardeios a Aleppo, e os países do Golfo estão armando os rebeldes, que dessa forma avançam sobre as forças do governo.

"Todas estas guerras paralelas estão alimentando o conflito, e civis sírios de ambos os lados estão pagando o preço."

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